26 março, 2012

move on


Coragem, às vezes, é desapego. 
Parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. 
Permitir que voe sem que nos leve junto. 
Aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. Aceitar doer inteiro até florir de novo. 
É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais. 

19 março, 2012

Nunca imaginei um dia

Até alguns tempo atrás, eu costumava dizer frases como "eu jamais vou fazer isso" ou "nem morta eu faço aquilo", limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não é fácil libertar-se do manual de instruções que nos autoimpomos. Às vezes, leva-se uma vida inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu há tempo.

Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro "nunca imaginei um dia". Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas sentimentos não respeitam a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado, inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo mergulho.

A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito (...)

Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do "medo do ridículo" receberam alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.

Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um "eu" mais amplo. E sinto que é um caminho sem volta.

Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável "nunca imaginei um dia" de 2013.

Ainda há muitas experiências a conferir: cozinhar dignamente, fazer mais duas tatuagens, viajar de navio e mais umas 400 coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. 

Pois tem essa também: deixei de ser tão cética.

14 março, 2012

Jardim de amores


E o que resta no fim de toda essência é o rastro do aroma incolor de um sentimento negado a mercê dos tempos, a nostalgia de um passado pouco remoto onde a vida era o mesmo que flor e flor levava o nome de amor. 
E temo que para toda flor exista o tempo que mata, que cura, que revive um determinado fim e no fim, aos mortais restam apenas pétalas secas com a idealização de um verão passado onde os poetas vivem eternamente felizes com seus jardins de flores. 

A Vida da Gente



“Quem teve o privilégio de viver muito sabe que o tempo é um mestre muito caprichoso, ás vezes as suas lições são tão repentinas que quase nos afogam. 
Outras vezes, elas se depositam devagar como a conta gotas diante da avidez de nossas perguntas, e por isso, quem teve o privilégio de viver muito tempo, como tantos amigos aqui no nosso baile, aprende a olhar como serenidade o turbilhão da vida. 

Amores ardentes se extinguem, urgências se acalmam, passos ágeis ralentam, enfim, tudo muda. Muda o amor, mudam as pessoas, muda a família. 


Só o tempo permanece do mesmo modo, sempre passando. 


E é por isso que eu queria erguer um brinde a ele que esculpiu no meu rosto e na minha alma a sua marca da qual eu tanto me orgulho, então... 

Ao tempo!” 


(Lizia Manso)