21 agosto, 2012

Não sei se caso ou se compro uma bicicleta


Nunca levei esta expressão a sério, mas ela me pegou em cheio hoje pela manhã, deve ter sido a falta de café. Metaforizando a vida adulta, e todos os caminhos que elegemos percorrer, somos obrigados a escolher.  A simples frase resume opções, delimita… a dúvida é capciosa. Sério que só existem estas duas opções? Eu marco um “x” em uma das duas e saio pra viver? Uma opção é excludente a outra?

Não vou marcar um “x”, na esperança de “ser feliz para sempre”, é só uma prova velha impressa em mimeógrafo. Não quero aprovação neste teste. A questão nem é o “x”, mas a fantasia de não rasurar na hora da resposta, o sonho de marcá-lo para todo o sempre, torna-se maior.

A bicicleta, representando o individualismo, a independência, a liberdade. Ainda lembro da primeira bicicleta que ganhei aos 5 anos, era lilás… Era aventura, era a projeção da liberdade, que parece só ser alcançada depois de conseguirmos nos equilibrar em cima de duas rodinhas. O devaneio maior era poder largar os pedais e simplesmente erguer os braços.

Já casar, representa segurança. Cumplicidade e carinho, amor e respeito. O abandono dos sonhos individuais e o início de uma vida a dois, com família, futuro e café da manhã com torradas. A união de duas vidas.

Casar é tão antigo que me dá coqueluche, e ter uma bicicleta se tornou tão cool, que deixei a minha na garagem, por período indeterminado. 
Para contradizer a ordem natural das coisas, a sociedade nos faz escolher. Ou você se dedica a seus sonhos e a sua bicicleta, ou você partilha sua vida com alguém e casa.

Amar é tão recompensador quanto o primeiro equilíbrio na bicicleta. Só eu acho isso?
Decidi. Vou casar e comprar duas bicicletas. Mas antes, vou tomar o café que faltou hoje pela manhã.



(Fran Caye)

10 agosto, 2012

Amarello Amor




O que existe além do que ja foi dito sobre o amor?

Toda minha vida pautada em amores que tive ou gostaria de ter
Falando sobre os que tive, também não tenho muito que dizer.
Amei e fui muito bem amada.
Mas foi um amor, um único amor, que veio cruzou minha vida, tocou minha alma e ficou marcado em minha pele.
Todos nos carregamos com nós uma história.
Aquela que só nos atrevemos a lembrar, quando durante a noite no escuro, encostamos nossas cabeças no travesseiro e o silêncio cala fundo.
Não importam os anos, certas coisas simplesmente permanecem.
Mas então, numa quinta-feira a tarde de um ano qualquer, tropeçamos nesse amor já supostamente esquecido.
Percebemos que amor igual não há e que aquela pessoa continua e continuará a ser nossa referência afetiva mais sincera e profunda.
Não é doença nem obsessão. Aliás não e nada, só amor. Amor dos bons, daqueles que são únicos e maravilhosos, que acontecem poucas vezes na vida das pessoas. Daqueles amores que ficam e que teremos que conviver com ele como algo concreto e parte de nossas vidas.
Que alma consegue atravessar a vida sem ter conhecido o amor e quem sabe, ter a sorte de ser correspondido?

Que vida vale a pena sem amor?

Nenhum sentimento é mais lindo profundo e transformador que o amor.
Só amor transcende e purifica, enlouquece e cura, invade, permanece, liberta e aprisiona.
Quando acontece é um som grave que penetra invade e permanece.
Não compliquem e nem elaborem o sentimento mais incrível e poderoso de todos.
Permitam que eles cheguem e se instale.
Porque o resto são bobagens meninos, bobagens.

09 agosto, 2012

Intimidade é coisa rara

Houve um tempo, crianças, em que a gente não falava de sexo como quem fala de um pedaço de torta. Ninguém dizia Fulano comeu Beltrana, assim, com essa vulgaridade. Nada disso. Fulano tinha dormido com ela. Era este o verbo. O que os dois tinham feito antes de dormir, ou ao acordar, ficava subentendido. A informação era esta, dormiram juntos, ponto. Mesmo que eles não tivessem pregado o olho nem por um instante.

Lembrei desta expressão ao assistir Encontros e Desencontros. No filme, Bill Murray e Scarlett Johansson fazem o papel de dois americanos que hospedam-se no mesmo hotel em Tóquio e têm em comum a insônia e o estranhamento: estão perdidos no fuso horário, na cultura, no idioma, e precisando com urgência encontrar a si mesmos. Cruzam-se no bar. Gostam-se. Ajudam-se. E acabam dormindo juntos. Dormindo mesmo. Zzzzzzzzzzz.

A cena mostra ambos deitados na mesma cama, vestidos, conversando, quando começam a apagar lentamente, vencidos pelo cansaço. Antes de sucumbir ao mundo dos sonhos, ele ainda tem o impulso de tocar nela, que está ao seu lado, em posição fetal. Pousa, então, a mão no pé dela, que está descalço. E assim ficam os dois, de olhos fechados, capturados pelo sono, numa intimidade raramente mostrada no cinema.



Hoje, se você perguntar para qualquer pré-adolescente o que significa se divertir, ele dirá que é beijar muito. Fazer campeonato de quem pega mais. Beijar quatro, sete, treze. Quebram o próprio recorde e voltam pra casa sentindo um vazio estúpido, porque continuam sem a menor idéia do que seja um encontro de verdade, reconhecer-se em outra pessoa, amar alguém instintivamente, sem planejamento.

Estão todos perdidos em Tóquio.

Intimidade é coisa rara e prescinde de instruções. As revistas podem até fazer testes do tipo: “descubra se vocês são íntimos, marque um xis na resposta certa”, mas nem perca seu tempo, a intimidade não se presta a fórmulas, não está relacionada a tempo de convívio, é muito mais uma comunhão instantânea e inexplicável.

Intimidade é você se sentir tão à vontade com outra pessoa como se estivesse sozinho. É não precisar contemporizar, atuar, seduzir. É conseguir ir pra cama sem escovar os dentes, é esquecer de fechar as janelas, é compartilhar com alguém um estado de inconsciência. Dormir juntos é muito mais íntimo que sexo.