16 novembro, 2012

08 novembro, 2012

Envergo Mas Não Quebro

Me define (e não me limita) da primeira a última palavra.


Se por acaso pareço
E agora já não padeço
Um mal pedaço na vida

Saiba que minha alegria
Não é normal todavia
Com a dor é dividida

Eu sofro igual todo mundo
Eu apenas não me afundo
Em sofrimento infindo

Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mais volto depois sorrindo

Em tempos de tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilibrio e requebro

É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambú-taquara
Eu envergo mas não quebro (2x)

Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem

Tudo acaba, se inicia
Temporal e calmaria
Noite e dia, vai e vem

Quando é má a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto ou me queixo

E tal qual um barco solto
Salto alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo

Em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro

Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo mas não quebro


07 novembro, 2012

Ventos

Parei no tempo e vi que já correm longe os ventos...

Ventos que me contavam histórias, que fantasiavam a vida, que guiavam os pássaros, sonhos, a encantada correria das nuvens. Pouco me importava de onde vinham, queria mesmo era saber seus destinos. Que sol buscaria, que lua e estrelas tocariam, criei almas para eles, corações, sentimentos, materializei seus passos.
Aprendi com a vida que os ventos levam a fantasia de muitos amanheceres. Descobri que foram ingratos zombando da minha inocência.
Que os sonhos que levaram jamais poderiam trazê-los de volta.
Que só tinham passos acelerados... Para a frente!
Para a dureza do presente. Para as incertezas do futuro.
Descobri que não inventam histórias, que não acordam porque não dormem nunca, que não trazem o que já se foi, que apenas nos tocam com suas insensíveis invisibilidades.
Na verdade, em algum momento, poderei ser sábia o suficiente para descobrir o que quer dizer os ventos para os ouvidos da alma!


Qual dos dois

CAPÍTULO XXXII / OLHOS DE RESSACA

" - (...) Deixe ver os olhos, Capitu.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "Olhos de cigana oblíqua e dissimulada."
Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que (...) Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram.

Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve."


| Dom Casmurro - Machado de Assis |