Sempre que chega
o Dia Internacional da Mulher, procuro fugir do discurso de vitimização que a
data invoca. Não que estejamos com a vida ganha, mas creio que as mulheres já
mostraram a que vieram e as dificuldades pelas quais passamos não são
privilégio nosso: injustiça e violência são para todos. Temos, ainda, o grande
desafio de conciliar as atividades domésticas com a realização profissional, e
precisamos, naturalmente, da parceria do Estado e da parceria dos parceiros:
ser feliz é um trabalho de equipe. Mas não vou utilizar o 8 de Março para
colocar mais água no chororô habitual. Prefiro aproveitar a data, esse ano,
para fazer um brinde à nossa importância não para a sociedade e nem para a
família, mas umas para as outras.
Assistindo em DVD ao delicado filme Caramelo, produção
franco-libanesa do ano passado, tive a sensação boa de confirmar que o tempo
passa, os filhos crescem, os corações se partem, mas as amigas ficam. Como
todos os filmes que abordam a amizade e a solidão intrínseca de toda
mulher, Caramelo nos consola valorizando o que temos de
melhor: a nossa paixão, a nossa bravura ("sou mais macho que muito
homem") e o bom humor permanente, mesmo diante de tristezas profundas.
No filme, elas são cinco: a amante de um homem casado, a que tem pavor de
envelhecer e por conta disso se submete a situações humilhantes, a garota
muçulmana com casamento marcado que precisa esconder do noivo que não é mais
virgem, a enrustida que se sente atraída por outras mulheres e a senhora que
desistiu de investir no amor para cuidar da irmã mais velha, que é mentalmente
perturbada. Todas diferentes entre si e todas iguais a nós: mulheres
conflituadas, mas que podem contar umas com as outras em qualquer
circunstância.
Recentemente recebi por e-mail um texto anônimo, em inglês, que falava
justamente sobre isso: precisamos de mulheres a nossa volta. Amigas, filhas,
avós, netas, irmãs, cunhadas, tias, primas. Somos mais chatas do que os homens,
porém, entre uma chatice e outra, somos extremamente solidárias e companheiras de
farras e roubadas. Esquecemos com facilidade as alfinetadas da vida e temos
sempre uma boa dica para passar adiante, seja a de um filme imperdível, de uma
loja barateira ou de uma receita para esquecer da dieta. Competitivas? Talvez,
mas isso não corrompe em nada a nossa predisposição para o afeto, a nossa
compreensão dos medos que são comuns a todas, a longevidade dos nossos pactos,
o nosso abraço na hora da dor, a nossa delicadeza em momentos difíceis, a nossa
humildade para reconhecer quando erramos e a nossa natureza de leoas, capazes
de defender não só nossos filhotes, mas os filhotes de todo o bando.
Aprendemos a compartilhar nossas virtudes e pecados e temos uma capacidade
infinita para o perdão. Somos meigas e enérgicas ao mesmo tempo, o que perturba
e fascina os que nos rodeiam. Brigamos muito, é verdade: temos unhas compridas
não por acaso. Em compensação, nascemos com o dom de detectar o sagrado das
pequenas coisas, e é por isso que uma amizade iniciada na escola pode completar
bodas de ouro e uma empatia inesperada pode estimular confidências nunca
feitas. Amamos os homens, mas casadas, mesmo, somos umas com as outras.