05 junho, 2013

Confiar Desconfiando

Era um sábado pela manhã quando cedi à tentação de ligar a televisão. Todos ainda estavam dormindo. Sem TV a cabo, zapeei pelos canais abertos a procura impossível de algo interessante.

Parei para assistir um pastor “evangélico” fazer a sua exposição “nada” bíblica. Estava com um bonito livro na mão, uma Bíblia, à qual ele atribuía o poder de, se os compradores dessem atenção aos comentários de rodapé, ficarem ricos. Continuou dizendo que se nós, telespectadores, não tínhamos uma vida de devoção à igreja, de forma que não investíssemos nossos recursos nela, igreja (com “i” minúsculo mesmo), estaríamos vulneráveis aos ataques do “gafanhoto migrador” (figura que simboliza a devastação de nosso bens materiais como fruto de maldição) devido a porta que, pela falta das ofertas na igreja, abriríamos ao diabo.

Fiquei pasmo! Como pode alguém em rede nacional, apelar ao medo para conseguir dinheiro, manipular a fé das pessoas para conseguir realizar os seus sonhos megalomaníacos.

Pensei em mim e em outros tantos amigos que tentam a duras penas exercer um ministério sério. Quase me canonizei…

Mas pensei um pouco mais. Nunca pedi dinheiro dessa forma, nem lancei mão do citar maldições como o pastor o fizera, mas já usei o medo para conseguir algo de uma pessoa, já criminalizei o mundo e desviei a minha culpa culpando estruturas espirituais, já fui pedra de tropeço para a fé de mais novos pura e simplesmente para vencer uma discussão religiosa.

Pedi perdão na hora. Primeiro por me achar um santo em relação àquele homem; segundo, por me lembrar que também manipulei a fé de outros para conseguir algo para mim ou meu ministério.

Fé é algo sagrado. O coração das pessoas também.

Manipular a fé de outrem para que gravitem em torno de alguém ou de uma instituição é pecado.

Muitas instituições fazem com que as pessoas vivam em função delas. Geram, assim, indivíduos tímidos em relação à vida, dependentes em relação à fé e confusos em relação a si mesmos.

A Igreja existe para viver em função das pessoas, gerando pessoas autônomas que sabem viver a vida como um todo de um jeito cristão e, cuja fé madura, sabe discernir entre o bem e o mal sem a necessidade de um tutor.

Assim, pastor é um guia espiritual para o rebanho e não um oráculo ao qual devemos obediência irrestrita. E ele não guia sozinho, o faz com a ajuda dos irmãos mais maduros na fé, todos guiados pelo Espírito Santo à luz das Escrituras.

Portanto, gente querida, confiem mas desconfiem. A régua é a Bíblia Sagrada. A chancela é o Espírito Santo que habita nossos corações. Tudo o mais está comprometido pelo pecado, uns mais, outros menos.

(Fabricio Cunha)