17 abril, 2013

Um dia!


"Um dia você vai agradecer as separações. Agradecer um por um dos rompimentos, uma por uma das fossas, uma por uma das portas fechadas em sua cara, uma por uma das infiltrações pelo pulmão.
Um dia você vai se desculpar por sofrer, você se livrará dos ressentimentos e das vinganças.
Um dia você se verá feliz por ter estado triste.
Um dia entenderá que o destino realmente faz sentido, e que a falta de sentido ainda era caminho.
Um dia você perceberá a clara diferença entre orgulho e confiança, entre obsessão e paixão, entre fantasia e sonho.
Quando você finalmente encontrar a mulher de que precisava não conservará ódio por nenhuma ex. Mesmo a mais ingrata, a mais perversa, a mais intrusiva.
Quando você descobrir que não precisou inventar a mulher que você ama, que ela existe com toda telepatia e compreensão que jurava jamais testemunhar, você olhará o passado com empatia e sincero perdão.
Será generosamente imprevisível. Não mascará fofocas, apagará os desaforos, conhecerá a gentileza de dia e o cuidado de noite. Derramará em seu sangue uma overdose de ternura. Seus olhos estarão empilhados de estrelas. Os engradados das árvores estarão sendo abertos pelo jorro da luz.

O amor é libertador, o amor é a redenção fiscal, o amor de verdade expira as sentenças.

A vontade é preparar uma farta cesta de frutas e produtos especiais para as ex-mulheres. Gastar o salário do mês combinando iguarias de fino trato.
É meu modo de mostrar que estou imensamente feliz por falhar antes e me permitir viver o essencial agora.
O ímpeto é organizar um berço de fragrâncias e champanhes, conciliar vinhos da Nova Zelândia com patês franceses. Reunir bandeiras e promessas do oceano. Montar uma manjedoura com palha ao fundo daquilo que há de melhor e mais caro na estante de importados.
Uma barca com especiarias da Índia, pepinos do México, azeitonas da Itália, ovos de codorna do Peru e doce de leite da Argentina.
Uma caixinha sortida e colorida com direito a Panetone, passas e castanhas de caju.
Uma cesta graúda com celofane amarelo que alegrava os Natais da minha infância.
E escrever apenas “Obrigado”.
Sem maiores informações.
O milagre é cristalino. Não é possível guardar rancor."

(Fabrício Carpinejar)



"Não se prenda
A sentimentos antigos
Tudo que se foi vivido
Me preparou pra você
Não se ofenda
Com meus amores de antes
Todos tornaram-se ponte
Pra que eu chegasse a você"

16 abril, 2013

Se você quiser ser o homem da minha vida



Eu devo pedir desculpas por ter rido na tua cara quando você falou aquela palavra: casamento. Você me perdoa? Casamento me assusta mais do que a Samara, daquele filme de terror, sabe? Mas não pense que eu não tenho percebido toda a sua vontade de se tornar o homem da minha vida. Em troca disso, eu vou te dar algumas dicas, ok? Papel e caneta em mãos porque não é sempre que te contarei meus segredos.

Se você quiser ser o homem da minha vida, não me dê flores, chocolates, ursinhos de pelúcias ou etc. Me dê cartões. Escreva coisas estúpidas e bobas que me farão rir como uma criança. Depois disso, compre flores, chocolates e ursinhos. Você pode me dar um helicóptero todo rosa pink, com minhas iniciais na porta. Mas se não tiver um cartãozinho surpresa com teus garranchos, não será a mesma coisa, entende?

Use uma calça velha e uma camisa manchada pela casa. Deixe a barba crescer até irritar meu queixo. Ria dos meus dedos dos pés. Seja elogiado por algumas vacas em rede social. Me jure fidelidade, mas pareça olhar outras mulheres quando estivermos de mãos dadas por aí. Eu preciso estar desconfiada. Preciso que você suma, vez ou outra, sem me avisar. Preciso que você falhe comigo e me peça perdão. Eu sou uma mulher cheia de dúvidas. E quantos mais as dúvidas forem sobre você, mais você reinará em meu pensamento.

Se você quiser ser o homem da minha vida, seja meu pai, de vez em quando. Me dê broncas para tomar remédios e me coloque pra dormir em teu peito. Eu gosto de carinhos no lóbulo da orelha e massagens da nuca. E, por favor, me deixe ser tua mãe também. Vou querer ter o poder de te fazer vestir um casaco em dia frio e de te fazer curativos quando você se ralar todo no futebol de quinta. Por falar em futebol, nunca me leve para ver você jogar com teus amigos. Me deixe em casa, me questionando se você realmente está ou não com um monte homens correndo atrás de uma bola. Não me ligue perguntando se pode dormir comigo. Me envie um SMS às 2h da manhã dizendo que está na minha porta.

Não abaixe a tampa da privada. Não tire as tuas cuecas do chão do quarto. Não me deixe ver novelas sem dizer que está passando o seu programa de esportes favorito em outro canal da TV fechada. Mas me faça surpresas românticas, também. Faça sexo comigo. Me chame de algum nome chulo, mas deixe escapar um “te amo” em algum momento da transa. Fale palavrões perto da minha mãe. Apareça sem camisa quando minhas amigas estiverem em casa. Fique bêbado com teus amigos na sala, enquanto em me tranco no quarto tentando encontrar um silêncio decente que me deixe estudar. Esqueça nosso aniversário de namoro. Adoro ver tua cara de surpresa ao receber um presente sem ter o que dar em troca.

Não me deixe fumar mais do que três cigarros. Mas não me perturbe para não beber tanta tequila. Me faça cócegas. Receba uma ligação de alguma ex-namorada no meio de uma discussão de relacionamento nossa. Me deixe cortar as tuas unhas e reclame de dor quando eu for espremer tuas espinhas. Me chame de “minha mulher” na frente dos meus amigos só para demonstrar o teu lado possessivo.

Se você quiser ser o homem da minha vida, insista. Saiba que quando eu disser “Ok, você quem sabe”, quero dizer: “Não”. Quando eu disser “Talvez”, quero dizer “Não”. E quando eu disser: “Não estou com ciúmes”, eu estou dizendo: “Claro, porra!”. Mas insista. Me roube beijos no auge das minhas crises e me coloque para dormir quando eu não tiver mais o que falar. E não se esqueça de sempre me dar novos motivos para querer dormir com você mais e mais noites.

(Hugo Rodrigues)

12 abril, 2013

Obrigada, Jesus!

Todo meu amor a ele que abriu a porta e a ela que acendeu a luz.

E aos meus mestres, os meus mestres são os meus amigos. As pessoas que escolho ou me escolhem como amigos, são pessoas que admiro. Cada um com sua sua escrotice e, mesmo assim, essas pessoas não deixam de ser mestres em alguma coisa.

08 abril, 2013

Minha verborragia.

É claro que dói. Mas penso assim: dói muito mais ficar entalado na garganta e atordoando o coração. É por isso que eu falo, coloco pra fora. Se não der certo pelo menos não vou me arrepender e nem me engasgar com os pedaços do que restou.

Não acho que tudo deva ser dito. Mas acredito que certas coisas não podem passar em branco, elas precisam de um espaço no mundo e esse espaço só surge através da fala, da escrita, do ato de colocar pra fora. Tem coisas que não podem ficar guardadas, elas nasceram para deixar o mundo mais humano.

Um sentimento guardado vai criando uma bola dentro do corpo. E ela vai aumentando com o tempo. Se torna dura, estranha, sombria. Essas coisas estragam a gente. O corpo e a alma. Tira o brilho dos olhos, dá um tom triste, acaba com tudo.

Existem jeitos e jeitos de dizer as coisas. Não dá pra abrir a boca e despejar palavras. Elas precisam se alinhar, uma tem que segurar a mão da outra, fazer um carinho, prestar atenção, conversar. Elas precisam dançar e sair da boca com leveza. Dizer tudo que pensa de uma forma agressiva não é motivo de orgulho. Sinceridade não é grosseria, muito menos falta de educação. Sinceridade é ser fiel ao que você sente e passar isso para o outro da melhor e mais bonita forma possível. Caso a emoção seja violenta, sinceridade é ser fiel ao que você sente e passar isso para o outro sem a intenção de magoar ou ferir.

Sou a favor do jogo limpo. Se uma coisa te feriu e te machucou, diz. Se uma coisa ficou entalada na garganta, cospe. Se uma coisa tá incomodando, tá te apertando, tira. A vida fica mais simples assim.

02 abril, 2013

Elephant Gun


Elephant gun, arma de calibre largo. 
Nome dado porque originalmente eram feitas para uso de caçadores de elefantes ou outras caças perigosas. 

01 abril, 2013

Não era amor, Lopes.


"Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaraçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que?

Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranquila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de uma dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responder às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto.

Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência?
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."

- E hoje, é dia da mentira.