18 julho, 2012

Conversas de cozinha (sobre separação)

Essa semana tive mais um daqueles almoços bacanas com amigas queridas, amigas do meu primeiro estágio emprego. Uma amizade que começou despretensiosamente, mas que perdura por bons 4 anos. Não nos reunimos sempre, acho que posso contar nas mãos quantas vezes nos vemos por ano desde que não fazemos mais parte da rotina uma da outra, mas sempre - e quando digo sempre é sempre mesmo - que nos vemos, as conversas exalam um carinho muito especial.

Nesse almoço a conversa teve um tom um pouco mais tenso, uma delas acabou de se separar, separação nunca é fácil, mas ela parecia muito sóbria sobre a situação que está atravessando, eu duvido que a separação dela vá durar mais do que alguns meses, mas ela costuma nos surpreender, então, pode ser que daqui a 1 ano ela esteja noiva novamente ou grávida ou quem sabe já seja mãe, ou, ou, ou... Seja lá o que acontecer, estaremos juntas de uma forma ou de outra. Dessa eu sempre admirei o impeto de viver "desvairadamente", ela é do tipo: eu quero, eu posso, eu vivo, eu assumo as consequências e eu não me arrependo. Quantas pessoas são viscerais dessa forma? Eu conheço pouquíssimas e admiro todas elas. Eu não sou visceral, se vejo que alguma coisa tem probabilidade maior que 50% de dar errado dificilmente vou adiante, resolvo de uma vez ou passo, acho que por isso admiro tanto esse jeito dela, talvez porque lá no fundo em alguns momentos desejasse ser assim e não sou por falta de coragem ou preguiça.

A outra é uma esfinge, um eterno mistério, fala pouquíssimo sobre a vida pessoal, provavelmente a mais inteligente de nós 4, eu olho pra ela e pressinto vejo/desejo que ela será uma pessoa de muito sucesso. Eu sei que não existe ninguém que seja 100% bom nem 100% mal, mas eu olho pra ela e vejo uma pessoa totalmente do bem, daquelas que é incapaz de fazer ou pensar mal do próximo, coincidentemente ela tem voltado o seu trabalho sempre pra ONGs. A mais parecida comigo, não pela bondade aparente, mas pelo jeito de pensar e se comportar, somos pura razão, não que não entendamos de sentimentos, pelo contrário, suspeito que seres extremamente racionais são os que mais sentem, mas decidimos por viver de acordo com a realidade e com os pés fincados no chão, permitindo voar quando nos convêm ou quando nos iludimos achamos que podemos controlar o voo.

E a outra ponta que fecha esse quadrado afetivo é minha irmã de alma, isso define a nossa relação, nos conhecemos há 9 anos e temos história pra 'mais de metro'. E toda nossa amizade daria mais que um paragrafo ou uma postagem, daria um livro, um blog, enfim, teria que se ter muito tempo e paciência pra saber de tudo.

Talvez elas nem saibam o quanto são importantes pra mim, nem o quanto as nossas conversas de cozinha tardes sem fim durante dois anos foram edificantes pra mim vida, pro mais triviais que fossem os assuntos. 2008 foi um ano extremamente difícil na minha vida, e posso dizer sem medo de errar ou parecer piegas que essas novas amizades foram as melhores coisas que me aconteceram naquele ano.

Enfim, desejamos o bem e o sucesso uma da outra onde estivermos.
Mas, na verdade, nem era sobre a nossa amizade que eu tinha pensado em escrever... 


Voltando ao inicio do post, as histórias delas sempre me fazem pensar e repensar muitas coisas, não seria diferente se tratando de um assunto delicado como separação.

É sabida a dor que advêm de qualquer separação, o desgaste do fim é no minimo cansativo, mas ainda assim sou totalmente contra a visão dramática da ruptura. Apesar de todos os destemperos, mágoas, acessos de fúria, solidão, discussões, raivas contidas e raivas extrapoladas; quando nos colocamos como prioridade sobrevivemos com dignidade a finitude das relações e sentimentos.

Só não é mais civilizado porque a maioria das pessoas ainda se rende muito facilmente ao script que nos entregam no berço, sem bolar outras formas de ser feliz - e até outras formas de ser infeliz. Se todo mundo diz que separação é, obrigatoriamente, um colapso de consequências trágicas, lá vamos nós nos comportar como se estivéssemos vivendo as tais consequências trágicas, quando talvez estejamos apenas temendo a liberdade à qual nos desacostumamos, mais nada.
Claro que toda separação é um angu, mas há maneiras e maneiras de lidar com ela. Uns aceitam a tristeza como algo inevitável, temporário e enriquecedor, outros transformam sua dor em cartase coletiva onde o humor e a inteligência vencem no fnal. Qual desses roteiros é mais realista? Eu diria que tudo é real, transitório e reversível. Assim como um casamento pode não dar certo, uma separação também pode não dar certo. Não é uma idéia alentadora?
Gente, nossa separação não deu certo! Volta tudo como era antes.

Melhor do que se preocupar com um happy end ou com um unhappy end é desejar que tudo tenha uma continuidade, estejamos sós ou acompanhados.
Uma caminhada cheia de contratempos até descobrir com alívio, que não há fim, a vida segue.

E, como tudo termina em música, e pensando na visão dramática da ruptura Dona Isabella Taviani canta uma daquelas que representa a volta por cima e aquele orgulho que dá quando a gente pode - sinceramente - dizer: 


"Agora quem não quer de novo sou eu, sou eu, sou eu. Que sejas bem feliz como eu te fiz..."